quinta-feira, 4 de junho de 2009

Nó na garganta - parte I


Já eram mais de oito horas da noite de mais um dia atribulado para os dois. Ela sentou-se à mesa, ele puxou uma cadeira e sentou-se ao seu lado. Começaram a conversar, cada um reclamando sobre o seu trabalho. Ele pediu uma cerveja escura – boa pedida para a noite fria que fazia. Ela preferiu um suco de melancia. Ele nem notou que ela havia trocado sua bebida oficial – a caipirinha de frutas vermelhas. Ele acendeu um cigarro, depois outro, e muitos mais até decidirem ir embora. Ela tentava, discretamente, desviar a fumaça do seu rosto enquanto acompanhava os gestos apressados, a fala arrastada e ansiosa dele, com o encantamento que é peculiar dos apaixonados.

Ela tentava falar sobre coisas amenas, como os compromissos agendados para o final de semana (manicure, cabeleireiro, sessão comprinhas com uma amiga) mas ele insistia em comentar sobre os problemas que lhe assolavam: trabalho, dinheiro, trabalho. Após algumas tentativas (frustradas), ela decidiu calar-se. Percebeu que ali, figurava apenas como ouvinte e era esse o papel que ele esperava dela no momento.

As horas foram passando e ela já não registrava uma única palavra proferida por ele. Seu pensamento estava longe dali. Ela parecia acompanhar um filme na opção mute. Mal se atentava para a leitura labial. Mas sabia, ainda assim, que o assunto continuava sendo o trabalho e a falta de dinheiro. Decidiu se levantar para ir ao banheiro. Entrou na cabine e chorou. Saiu, lavou o rosto, passou um pouco de corretivo e voltou para a mesa. Ele nem notou os olhos vermelhos, característicos de alguém que acabara de chorar.

O monólogo se estendeu por mais uns dez minutos. Ele pediu a conta, eles dividiram e saíram. Ele a abraçou e subiram a rua, em direção ao metrô. Ficaram um tempo abraçados na plataforma, num gesto de ternura e carinho. O metrô dela chegou antes. Despediram-se com um beijo caloroso e ela entrou no vagão. Ele a acompanhou até onde os olhos permitiram. Ela se sentia feliz apesar de, mais uma vez, ter adiado o anúncio.
Ela está grávida.

2 comentários:

  1. Como num baile medieval, a dança é conduzida por alguém e deixada por se conduzir por outra...

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  2. Ai muito oomplexo miga... nao gota de post assim... =(
    Amo vc!
    Beijo

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